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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Com a verdade me enganas, ou como Fernando Ulrich baralha as cartas, fazendo batota


Com a verdade me enganas, ou como Fernando Ulrich baralha as cartas, fazendo batota

Fernando Ulrich, presidente do Conselho de Administração do BPI, ao referir-se ao deve e haver entre o Estado (contribuintes) e o conjunto dos bancos portugueses, que se socorreram de fundos públicos para se recapitalizarem, parte do princípio (como se isso fosse um direito natural) de que é uma obrigação dos contribuintes, através do Estado, participarem no esforço financeiro de salvar os bancos falidos. É o que se deduz, quando ele afirmou, em conferência de imprensa (não sei se com consternação ou com satisfação), que os portugueses (Estado) até pagaram pouco, apenas uma importância entre 4.400 a 6.400 milhões de euros. Com toda a desfaçatez, que lhe é reconhecida, Fernando Ulrich afirmou que "o esforço dos contribuintes é muito baixo quando comparado com o dos accionistas e quando comparado internacionalmente", esquecendo-se de esclarecer se a comparação referida era percentual ou absoluta.

Mas, inicialmente, e, talvez, para tentar fazer "caixa" da notícia, até se atreveu a dizer a seguinte monumental atoarda, que a posterior divulgação dos números logo desmascarou: "Que os custos de suportar o sistema financeiro sejam suportados pelos contribuintes é mentira. É bom que as pessoas tenham noção disso". Mas, afinal, era verdade, segundo ele próprio demonstrou, ao contabilizar as perdas totais do Estado, com a recapitalização dos bancos (entre 4.400 a 6.400 milhões de euros.

Se eu ainda estivesse no activo, e tivesse sido destacado para fazer a cobertura da conferência de imprensa de Fernando Ulrich, ter-lhe-ia perguntado, quando ele se vangloriou dos 799 milhões de euros de dividendos, distribuídos aos accionistas do BPI, no final do período de recapitalização, qual tinha sido, afinal, o saldo do esforço financeiro dos accionistas, medido entre o valor das injecções de capital efectuadas no banco e o valor dos juros recebidos, questão fundamental, que ele não referiu, talvez por conveniência, já que eu presumo que os accionistas saíram a ganhar, como é costume, em todas as crises financeiras.

É por estas e por outras, e por todas elas, ao mesmo tempo, que eu defendo, como sempre defendi, a estatização do crédito e a nacionalização dos bancos.

E lembrar-me eu que, no tempo das privatizações dos bancos (década de oitenta, do século passado), defendidas e promovidas pelo Dr. Soares (que a terra lhe seja leve), se esgrimia aquele bombástico e ardiloso argumento de que os privados geriam melhor os bancos do que o Estado. Viu-se e está a ver-se!...

Alexandre de Castro
19 de Janeiro de 2017

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