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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Na Dinamarca não há fungagá da bicharada

Lars Rasmussen _ primeiro-ministro da Dinamarca

Na Dinamarca não há fungagá da bicharada

Se os direitinhas lusos, que, logo a seguir às eleições legislativas de quatro de Outubro, começaram a "vomitar", até à exaustão, o estafado argumento do partido mais votado, fossem dinamarqueses, teriam trucidado Lars Rasmussen, que, no rescaldo das últimas eleições, na Dinamarca, foi indigitado primeiro-ministro, pela rainha, tendo saído da lista de deputados do terceiro partido mais votado. E os dirigentes dos dois partidos, que se posicionaram no primeiro e segundo lugares, respectivamente, em relação ao número de votos obtidos, não foram montar a barraca para a Feira da Ladra, a protestar. 
Falta à direita política portuguesa a cultura cívica necessária para poder ser respeitada. Presidente da República, primeiro-ministro e ministros, do anterior governo, e deputados do PSD e do CDS assumiram um comportamento vergonhoso, no período pós-eleitoral, ao quererem manter a todo o custo os partidos da direita no poder, não se inibindo em tentar subverter a Constituição, distorcendo grosseiramente a interpretação do seu artigo 187º, que reza assim: "O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais". Se os deputados constituintes tivessem querido dizer que seria nomeado primeiro-ministro o primeiro deputado da lista do partido mais votado, tê-lo-iam expressado textualmente. E não o fizeram, e muito bem, pois previram que, em função dos resultados eleitorais, pudesse surgir um quadro parlamentar que não suportasse tal solução, em termos de sustentabilidade e durabilidade do respectivo executivo. Foi o que aconteceu ao governo imposto por Cavaco Silva. Caiu, não resistindo à maioria de deputados da oposição, que aprovou em bloco a moção de rejeição.
O Presidente da República, devido à sua empedernida teimosia, sustentada por um enviesado e perverso preconceito, por um viscoso e aberrante fundamentalismo ideológico e por um doentio partidarismo, prejudicou a economia do país, ao, através do seu jogo palaciano dilatório, provocar o atraso da elaboração do Orçamento de Estado de 2016, que só será aprovado lá para meados de Fevereiro.
Por outro lado, com as suas delongas premeditadas, a fim de dar tempo e espaço à direita, para descarregar todo o veneno acumulado sobre a esquerda e continuar a martelar o argumento do partido mais votado, Cavaco Silva provocou, desnecessariamente, uma crispação na sociedade portuguesa, o que não é saudável para a democracia, que nunca pode ser desvirtuada no plano ético.
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