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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Stuart Holland: “Este é ‘o’ momento de viragem da Europa”


Amigo de Yanis Varoufakis, este ex-conselheiro de Jacques Delors e de António Guterres revela o que pode acontecer na cimeira extraordinária do Ecofin na próxima semana.
"As instituições já existem. O Banco Europeu de Investimentos (BEI) e o Fundo Europeu de Investimentos, que eu sugeri quando aconselhava Jacques Delors [Presidente da Comissão Europeia] nos anos 90. Como? Através da emissão de obrigações. Como Roosevelt fez, para financiar os investimentos sociais e ambientais do New Deal que reduziram o desemprego, entre 1933 e a Segunda Guerra Mundial, de 25% para menos de 10%. E isto foi feito com um déficit orçamental médio de 3% - o limite de Maastricht…"
Paulo Pena

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A cultura neoliberal, que domina as chancelarias europeias, insiste na abordagem da vertente financeira da crise, quando o problema, a nível da Europa, reside na economia, que só não cresce consistentemente, como ainda, e isto é até o mais grave, corre o risco de entrar em deflação. A solução passa, pois, por encontrar estímulos para desenvolver a economia. O caso da Grécia e  de Portugal, a suportarem quatro anos de uma dura austeridade, mostra que não é pelo lado do défice orçamental e da dívida pública que se resolve o problema. O problema resolve-se com a opção de um criterioso investimento público sectorial, gerador de emprego, que, por sua vez, irá desenvolver a economia, condição necessária para realizar saldos primários positivos, a nível orçamental, assim como crescentes saldos positivos, ao nível da procura externa. Só por esta via, e não pelo estrangulamento da procura interna, se poderão encontrar folgas para pagar a dívida aos credores internacionais. E se mais alguma coisa há a fazer, além de um maior envolvimento dos estados na economia, será pelo lado da política cambial, promovendo a desvalorização do euro e alinhando o seu valor pela média da produtividade do conjunto dos estados membros, que o adotaram, a fim de aumentar a sua competitividade externa e poder-se assim fomentar as exportações para fora do espaço comunitário.
Há uma coisa que tem de entrar na cabeça das pessoas e dos dirigentes políticos: está demonstrado estatisticamente e matematicamente ser impossível, com a atual política recessiva e austeritária, subordinada ao peso da dívida e do seu serviço e à intransigente rigidez orçamental, a Grécia e Portugal poderem garantir os compromissos estabelecidos com a troika. A não ser que se queira reduzir os dois países à endémica pobreza de alguns países africanos. 
Portugal já não se livra, em virtude da desvitalização demográfica, provocada pela aplicação de políticas erradas, de vir no futuro a enfrentar uma gravíssima e longa crise geracional, associada ao envelhecimento da sua população, e que começará a fazer sentir-se, no domínio económico e financeiro, já na próxima geração. E a responsabilidade desta tragédia tem de ser assacada por inteiro à política deste governo de direita, que deste modo está a fazer a cova, onde o país irá ser enterrado. 
AC

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