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domingo, 2 de junho de 2013

Notas do meu rodapé: Saída do euro é a única alternativa (*)


O erro foi Portugal ter aderido à moeda única, uma moeda que foi criada, no interesse da Alemanha, com um valor cambial demasiado elevado para a realidade macro-económica de Portugal, que, imediatamente, começou a perder competitividade externa.
A partir daí, tudo se agravou, com os sucessivos governos do PSD e do PS a deixarem, no interesse dos bancos nacionais e do lobie da construção civil, que a dívida externa privada fosse canalizada, na sua maior parte, para o mercado da compra de casa para habitação própria, um investimento que, agora, perdeu valor, deixando de promover retorno para a economia. É diferente, em termos de sustentabilidade futura, uma economia investir na construção de um conjunto de prédios para habitação ou investir numa unidade industrial, por exemplo. A construção de casas apenas dinamiza a economia, até ao momento em que a obra acaba, enquanto uma unidade industrial continua, durante um período prolongado, a acrescentar valor ao investimento e a manter postos de trabalho. A dívida dos bancos nacionais ao estrangeiro (260% do PIB) formou-se assim, o que permitiu aos acionistas, com os subsequentes empréstimos a empresas e a particulares, acumular fabulosos lucros em juros e amortizações. Agora, esses acionistas, para poderem salvar os seus bancos, aguardam o retorno do dinheiro ganho com austeridade em curso, que o BCE controla através da troika, e que, posteriormente, lhes irá emprestar com um juro de um por cento. Entretanto, a dívida contraída com o chamado ajustamento está a pagar um juro de 3,5 por cento. O diferencial fica nas mãos do capital financeiro. Quer dizer: serão os portugueses, através desta brutal austeridade, que vão pagar os desmandos dos bancos, que, tal como está organizado o sistema financeiro internacional, têm sempre a possibilidade de socializar os prejuízos dos seus balanços (nos EUA, o governo injetou diretamente o dinheiro dos impostos nos bancos falidos).
O objetivo de submeter Portugal a um programa de ajustamento, depois de se ter desencadeado, com êxito, uma estudada campanha para desestabilizar o mercado da dívida soberana portuguesa, consiste em promover uma brutal desvalorização salarial, na ordem dos 30 por cento, através da austeridade, evitando-se assim uma desvalorização idêntica para o capital e os respetivos rendimentos. Se Portugal não tivesse aderido ao euro, Portugal contornaria o problema do excessivo endividamento, desvalorizando controladamente a sua moeda nacional, no sentido de ganhar competitividade externa. Neste caso, a desvalorização também apanhava o capital e os seus rendimentos. Haveria um empobrecimento geral, mas, em contrapartida, e se os governos fossem honestos e competentes, as dificuldades seriam superadas a médio prazo, pois o crescimento das exportações faria crescer a economia e, indiretamente, promoveria também o mercado interno.
Por isso, na minha modesta opinião, só vejo alternativa, para Portugal ultrapassar a crise, na saída negociada do euro e na reestruturação da dívida soberana, com condições que favoreçam o crescimento económico.

(*) - Este texto resultou de um comentário que coloquei no blogue anónimo séc. XXI

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